sábado, 15 de fevereiro de 2014

É fogo...



É fogo...

Sei que é fogo o que vou relatar. Mas é a oportunidade que tenho para externar o que estou sentido.
No momento de maior vigor e em que o fogo da paixão mais ardia em meu peito, tornei-me mãe pela primeira vez. Não me arrependo. Morro de amor pelos meus cinco filhos. E recordo das vezes em que os amamentei nos meus seios enquanto com outra mãozinha afagava o meu queixo ou meu outro seio. Aquilo me deixava enternecida.
Mas hoje que já estão crescidos puseram-me neste abrigo. Não os amaldiçoou, pelo contrário abençoou-os logo que levanto e apenas tenho saudades. Sei que estão bem e vivem ocupados, por isso não sobra um tempinho para vir me visitar. Às vezes ligam, mas não falam comigo, apenas fico sabendo depois. Não sei por que razão.
Estive pensando também na época em que fui modelo, todos se encantavam ao olhar minhas fotos em revistas e manchetes de jornais. Hoje não tenho valor muito menos para estes. Meus seios murcharam, os silicones e as plásticas não resolvem mais. O tempo foi devorando lentamente. Estou fraca, ando a três pés, já se foram o fogo da minha juventude. As vestes que cobrem o meu corpo são escolha dos outros. As minhas reclamações não são ouvidas.
Uma vez ou outra choro sozinha às escondida no meu canto. Ninguém procura saber se ainda gosto de alguma coisa, apenas sou obrigada a aceitar. Às vezes nem tenho direito de chorar, pois sou logo repreendida.
Neste lugar tenho apenas o calor dos cobertores e o aconchego de alguns que estão na mesma situação. Mas sinto o frio dos braços dos meus filhos, que apenas contentam em dar-me alimentos e cuidados por meio de mãos estranhas. Não sou revoltada com eles, mas desejo tanto que venham me ver, abraçar, mesmo que de leve, já que meu corpo não suporta abraços fortes, que penteiam meus poucos cabelos, como eu fazia com todos eles. Porque em mim tudo esta fraco, menos o amor que sinto por meus filhos. Esse o tempo não teve o prazer de devorar. Que eles simplesmente venham me visitar. Desejo ver-los mesmos que distantes.
Meu amado já se foi, sei que em breve o verei. Foram-se também os meus sonhos, restando apenas um, abraçar e beijar os meus filhos antes que eu vá. Deitar no colo deles como eles faziam quando chegavam cansados e afadigados das brincadeiras com seus amiguinhos. Então eu fecharia meus olhos pra sempre bem devagarzinho e contente, sentido suas mãos quentes e não mais pequeninas, tocando o meu corpo que pouco a pouco iria perdendo o calor, mas eu fascinada de amor, amando e sendo amada pela última vez. Sendo filha dos meus filhos, pelos quais me esgotei com preocupações, trabalho, noites mal dormidas. Não é uma cobrança pelo que fiz, seria apenas uma chance de ver o meu amor sendo aceito. 
Contudo, vivo na incerteza, solidão, notando como nosso amor de mãe é fogo que insiste em fumegar ainda que a idade e a doença vão-nos sucumbindo. Por isso estou usando o restante do vigor que tenho para escrever a meus filhos.
Agora me despeço, por favor, filhos venham me ver. Que Deus os abençoe como sempre.
Filhos, só mais uma coisa, é insistência de mãe... se não for muito tragam para mim um docinho de leite e um...