sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014
sábado, 15 de fevereiro de 2014
É fogo...
É fogo...
No momento de maior vigor e em que o fogo da paixão
mais ardia em meu peito, tornei-me mãe pela primeira vez. Não me arrependo. Morro
de amor pelos meus cinco filhos. E recordo das vezes em que os amamentei nos
meus seios enquanto com outra mãozinha afagava o meu queixo ou meu outro seio. Aquilo
me deixava enternecida.
Mas hoje que já estão crescidos puseram-me neste
abrigo. Não os amaldiçoou, pelo contrário abençoou-os logo que levanto e apenas
tenho saudades. Sei que estão bem e vivem ocupados, por isso não sobra um
tempinho para vir me visitar. Às vezes ligam, mas não falam comigo, apenas fico
sabendo depois. Não sei por que razão.
Estive pensando também na época em que fui
modelo, todos se encantavam ao olhar minhas fotos em revistas e manchetes de jornais.
Hoje não tenho valor muito menos para estes. Meus seios murcharam, os silicones
e as plásticas não resolvem mais. O tempo foi devorando lentamente. Estou fraca,
ando a três pés, já se foram o fogo da minha juventude. As vestes que cobrem o
meu corpo são escolha dos outros. As minhas reclamações não são ouvidas.
Uma vez ou outra choro sozinha às escondida no meu canto. Ninguém
procura saber se ainda gosto de alguma coisa, apenas sou obrigada a aceitar. Às
vezes nem tenho direito de chorar, pois sou logo repreendida.
Neste lugar tenho apenas o calor dos
cobertores e o aconchego de alguns que estão na mesma situação. Mas sinto o
frio dos braços dos meus filhos, que apenas contentam em dar-me alimentos e
cuidados por meio de mãos estranhas. Não sou revoltada com eles, mas desejo
tanto que venham me ver, abraçar, mesmo que de leve, já que meu corpo não suporta
abraços fortes, que penteiam meus poucos cabelos, como eu fazia com todos eles.
Porque em mim tudo esta fraco, menos o amor que sinto por meus filhos. Esse o
tempo não teve o prazer de devorar. Que eles simplesmente venham me visitar. Desejo
ver-los mesmos que distantes.
Meu amado já se foi, sei que em breve o
verei. Foram-se também os meus sonhos, restando apenas um, abraçar e beijar os
meus filhos antes que eu vá. Deitar no colo deles como eles faziam quando
chegavam cansados e afadigados das brincadeiras com seus amiguinhos. Então eu
fecharia meus olhos pra sempre bem devagarzinho e contente, sentido suas mãos quentes
e não mais pequeninas, tocando o meu corpo que pouco a pouco iria perdendo o
calor, mas eu fascinada de amor, amando e sendo amada pela última vez. Sendo filha dos meus filhos, pelos quais me esgotei com preocupações, trabalho, noites mal
dormidas. Não é uma cobrança pelo que fiz, seria apenas uma chance de ver o meu
amor sendo aceito.
Contudo, vivo na incerteza, solidão, notando como nosso amor
de mãe é fogo que insiste em fumegar ainda que a idade e a doença vão-nos
sucumbindo. Por isso estou usando o restante do vigor que tenho para escrever a
meus filhos.
Agora me despeço, por favor, filhos venham me
ver. Que Deus os abençoe como sempre.
Filhos, só mais uma coisa, é insistência de mãe...
se não for muito tragam para mim um docinho de leite e um...
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